Não resta dúvida alguma que a produção científica representa o ponto mais alto por uma instituição de ensino superior. Assim como está mais do que certo que os esforços que são necessários para levar avante uma nova aventura editorial constituem – principalmente num país como Moçambique – um gesto de ousadia, muito mais do que de coragem.

Com efeito, em Moçambique sempre foi difícil garantir a continuidade de revistas científicas em qualquer época e em qualquer domínio do saber. A publicação periódica com mais continuidade foi a prestigiada revista Estudos Moçambicanos, do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, embora hoje várias instituições, públicas e privadas, do ensino superior estão à procura de intensificar a sua produção académica mediante publicações regulares.

A Universidade Técnica de Moçambique não foge à regra. Depois de mais de quinze anos de existência, da abertura do seu primeiro curso de Doutoramento em 2017, da consolidação da área da pós-graduação com sete cursos de Mestrado a decorrer neste momento, da instalação de um centro de pesquisa e inovação com pessoal qualificado e especificamente contratado para o efeito, o “salto” para uma revista científica era uma medida incontornável.

A Revista Científica da UDM representa o primeiro veículo para albergar as publicações provenientes essencialmente dos mestrandos e doutorandos, além que dos docentes, da UDM. Entretanto, desde o primeiro número, este periódico conseguiu atrair o interesse de investigadores internacionais, que aceitaram o desafio de publicar os seus textos numa revista nova e por isso sem ainda grande visibilidade científica. Um tal elemento nos honra, constituindo um estímulo para continuar neste caminho de seriedade e rigor, misturando artigos do pessoal interno com textos de pesquisadores externos.

A Revista Científica da UDM tem uma periodicidade anual: o que significa que, pelo menos na sua primeira fase de vida, irá sair nos meses finais do ano solar, permitindo assim que o processo de revisão por pares – de que passarão indistintamente todos os artigos – será profundo e meticuloso.

A revista é por vocação multidisciplinar, uma vez que a UDM assenta em três grandes eixos disciplinares (correspondentes às suas três faculdades: Engenharias, Ciências Jurídicas e Ciências Sociais e Económicas), que encontram uma diferente articulação nos cursos de Mestrado e Doutoramento a ser implementados neste momento. Entretanto, além disso, a UDM, nos últimos anos, tem-se destacado, inclusivamente com publicações por parte dos seus docentes e investigadores, por caracterizar-se como instituição de ensino superior vocacionada para o estudo do risco, nas suas várias vertentes e dinâmicas, fazendo parte da rede de pesquisa Periperi U, liderada pela Universidade de Stellenbosch da África do Sul. Por isso que a revista aqui apresentada irá privilegiar, sem por isso excluir textos mais gerais, estudos sobre o risco, na perspectiva social e económica, jurídica e ambiental.

A política que guia a revista da UDM assenta na ideia da difusão do saber científico para quem esteja interessado, sem necessidade de pagar valores para ler os seus conteúdos: ou seja, uma política chamada comumente de open access. Numa realidade como a moçambicana, o acesso livre à produção científica nacional é um imperativo categórico, a custo de a UDM tiver de enfrentar alguns sacrifícios económicos.

Temos consciência de que o trabalho que estamos levando a cabo é difícil e vai precisar de algum tempo para que possa alcançar os patamares desejados. Porém, queremos crer que, mesmo assim, a nossa revista esteja nas condições de contribuir para a melhor compreensão das dinâmicas da sociedade moçambicana e, no geral, africana e mundial, considerada a boa qualidade dos textos propostos e a variedade das suas perspectivas e domínios científicos.